sábado, 28 de julho de 2012

Ilusão do idiótico

21:22 de uma sexta feira de inverno. Chego cansada em casa e tenho 3 mensagens na secretária eletrônica: Minha mãe querendo saber sobre a minha alimentação, a Liz me chamando pra um barzinho com a Fê e a Luana e uma proposta de jantar com o Lúcio, um carinha que conheci há duas semanas. Prefiro não responder nenhuma. Amanhã invento uma cólica ou uma dor de cabeça pra justificar minha ausência.

Sim, sei que preciso descansar um pouco dessa vida corrida, mas prefiro optar pelo poder relaxante da minha cama.

Há dois anos eu era uma universitária louca pra conseguir emprego, dinheiro e independência. Imaginem a minha alegria ao ser contratada por uma das maiores multinacionais do ramo de metalurgia! Em pouco tempo comprei o Audi A7 que tanto cobicei e um apartamento em uma das zonas nobres da cidade. Perfeito!

Em menos de um mês, descobri que nem tudo eram flores: meu chefe era um homem de dificílima convivência e extremamente exigente; o trajeto até meu apartamento, um caos; as vagas remanescentes na garagem, impraticáveis e o síndico do prédio, um militar aposentado sem abertura para conversas. Além disso, estava com dificuldades de encontrar  uma boa empregada doméstica.

E nem gosto de tocar nesse assunto. Por uma discussão a respeito de empregadas domésticas acabei terminando com o namoro de três anos com o Marcos. Mas isso é página virada. Já superei (acho). E, além disso, os prós superam os contras!

Fato é que hoje não dá pra sair de casa! Vou tomar umas duas taças do vinho português que ganhei do meu pai e ouvir a reconfortante trilha sonora de Kill Bill!

Enquanto toca "Twisted Nerve", a quarta faixa do cd e uma das minhas favoritas, leio em um blog um texto sobre Reiki, uma prática oriental que mescla energia e espiritualidade. Sei da existência de uma pequena escola aqui perto. Acho que vou começar a fazer, já que o Tai Chi Chuan e o Yoga não surtiram nenhum efeito.

Sempre fui fã dos orientais. Tudo se iniciou com os mangás e animes na adolescência, hoje faço aulas de mandarim e japonês, minha casa tem vários cantinhos orientais e estou sempre buscando algo pra resgatar aquela bela cultura, apesar de ainda não ter achado nada que realmente combinasse comigo...

A fome bate. Vou no congelador e pego o pote de sorbet de manga. Nada melhor que uma espécie de sorvete sem gordura para matar minha fome e manter minha dieta. Que minha mãe não saiba que esse é o meu jantar! Confesso que minha alimentação não tem sido a mais balanceada possível, mas são tantas guloseimas e pratos novos que descobri de uns anos pra cá que ando me sentindo num paraíso gastronômico!

De repente minha irmã liga pra combinarmos de ir na joalheria comprar um brinco e um colar pra festa beneficente do próximo fim de semana. Depois da gafe da mulher do vice-prefeito aparecer com pérolas falsas na última festa, não podemos nem correr o risco de ir com jóias antigas! Pior que isso, só as roupas espalhafatosas da diretora de vendas da minha empresa. Como as pessoas conseguem ter tanto mal gosto?

A conversa com minha irmã rende, mas o sono acaba chegando avassalador. Despeço dela e desligo o iPhone. Antes de dormir ainda tenho forças de desligar o Mac que permaneceu aberto na página do Reiki. Finalmente posso ter meu sono dos deuses!

Uma festa num sítio, garoa fina, minha maquiagem toda borrada e o salto em uma das mãos. Na outra uma garrafa de vodka pela metade. Uma música dançante e as meninas felizes ao meu redor. Estou sorrindo! Estou me divertindo! Quanta felicidade!

Acordo.

Caio em prantos.

Ninguém entenderia se me visse assim, mas eu nunca, em toda minha vida, estive tão distante de mim mesma...



sexta-feira, 20 de julho de 2012

Passagem

Luzes se apagam na fria madrugada de Berlim. A maquiagem se borrou e a indumentária se encontra rasgada, mas nada disso a incomoda. O tempo parece ter estagnado e os últimos esforços para manter o corpo aquecido estão sendo feitos. Um cão lhe faz companhia, talvez esperando para se alimentar do que em instantes virá a ser uma carcaça. Nada. Nada. E de repente uma nota musical. Outra. E outra! Juntas elas formam uma melodia inspiradora! Hanna toma forças para segui-la. Inexplicavelmente a paisagem vai ficando disforme e ouve-se distantes latidos do enfadonho cão. É estranho. Seria medonho! Mas na melodia repousa toda a tranquilidade que ela necessita. Um reinício? O fim? Ela segue para descobrir com o sentimento de que isso não mais importa...