sábado, 19 de março de 2011

segunda-feira, 14 de março de 2011

Como se fosse ontem


Era noite.

Uma noite fria, escura e vazia, onde nada parecia se mover. A sombra era a rainha daquele cenário, e o silêncio, o rei. Dominavam com maestria o reino das trevas.

Pode parecer muito clichê, leitor, dizer que nesse cenário havia alguém triste, solitário, achando que nada mais fazia sentido na vida. Também pode ser entediante ler sobre esse assunto mais uma vez, a ponto de você questionar a criatividade de quem vos fala. Porém, mesmo com tudo isso, tenho que assumir que sim, tinha alguém nessas condições nesse dia.

Não sei se é o dia, dito melancólico, que transforma as emoções dessas pessoas ou se são elas próprias que, uma vez se sentindo péssimas, veem o mundo com olhos depreciativos, mas o fato é que essa combinação é mais frequente do que se possa imaginar.

Independente de qualquer hipótese e alheio a todas elas, lá estava nosso personagem, que pediu pra não ser identificado por motivos pessoais, que também não vêm ao caso.

Estava deitado em sua fiel companheira, a cama, que já se encontrava, assim como a face do jovem, úmida com a quantidade de lágrimas derramadas. Ok, sei que não há originalidade nenhuma nessas duas últimas linhas escritas já que as últimas pesquisas mostraram que 452 pessoas ficam nesse estado lamurioso por noite e provavelmente, leitor, você já deve ter passado por isso uma vez na vida (ou mais). Sendo assim, você sabe que dois pensamentos são bem frequentes nessa ocasião. Um é a morte, o outro é a vontade de "jogar tudo pro ar".

Nosso pequeno herói considerou as duas possibilidades, mas optou pela segunda. Tomou uma espécie de banho, vestiu alguns trajes negros e decidiu sair de casa naquela noite. Sem rumo, sem objetivos e com um teor alcóolico considerável no sangue, justificado pela garrafa que carregava consigo.

Passou em frente a alguns lugares, se interessou pelas batidas fortes de uma casa de show, decidindo entrar. O álcool e a música pesada o fizeram descarregar parte daquela energia negativa, sob olhares no mínimo curiosos dos presentes. Aquilo era bom! Aquilo o fazia sentir melhor! Mas aquilo era passageiro...

No fim da noite ele saiu pior do que havia entrado. Andou um pouco, sentou num banco de praça e perdeu a noção do tempo...

Quando deu por si, já havia amanhecido e uma guria parecia chamá-lo insistentemente por algum tempo. Não era uma andarilha, não era uma vendedora, era só uma pessoa comum que se preocupou com seu estado deprimente.

Bem, leitor, vou te importunar mais uma vez interrompendo a história com um parêntese. Se você é um dos que já passou por situação similar, sabe que quando alguém demonstra se importar consigo você se sente, de algum forma, bem!

E nosso herói não foi exceção. Alguma coisa mexeu com seu estado de espírito, e ele viu uma luz naquela guria. Ficaram ali boas horas conversando. Até hoje ele não sabe precisar se foram quatro ou mais, mas só o fato da garota matar a aula de inglês pra ficar ali, fazendo companhia, já foi uma verdadeira pepita de ouro.

Ele ficaria ali boas horas, quando ela interrompeu dizendo que estava faminta. Só aí ele se tocou de quanto tempo não comia e de como estava precisando de uma bela refeição. Como gratidão, ele a convidou para um lanche, onde eles continuaram conversando por um bom tempo.

Quando eles se foram, não foram sozinhos. Um sentimento novo e bonito parecia estar nascendo no peito dos dois, e nosso herói apostou todas suas fichas nesse sentimento.

O tempo foi se passando e os dois foram se tornando cada vez mais próximos. Não consigo narrar metade dos sentimentos daquela garota quando, com um par de aliança de compromisso, ele a pediu em namoro. Uma cena linda! Uma felicidade compartilhada por duas pessoas que cada vez mais se tornavam uma.

Cartas, promessas, presentes, gestos, toques, beijos, amor! Amor! Era aquilo que sentiam um pelo outro. Era puro, era simples, era intenso, era mágico, era real! E real foi a sintonia dos dois na primeira noite. Era como se o paraíso tivesse descido à Terra! Seria tão bom se aquele momento fosse eterno...

Os meses se passavam e, cada vez mais, aquele sentimento ia tomando conta! Não conseguiam mais ficar longe um do outro por mais de dois dias. Quando não estavam frente a frente, o celular e o computador faziam a ponte necessária entre as duas almas! Era perfeito! Ou elhor, era quase perfeito...

Ela tinha um ciúme patológico, que o incomodava. Ele tinha uma carência enorme que ela, muitas vezes, não conseguia suprir. Por isso, algumas brigas e discussões vieram, como em qualquer relacionamento. Mas o amor era maior, e tudo aquilo era superado.

Com o tempo as discussões ficaram mais frequentes, o relacionamento foi ficando tenso e um tanto monótono... Ela parecia um pouco distante. Ele precisava fazer alguma coisa, e já tinha seu plano na manga.

Havia comprado as alianças de ouro e a pediria em noivado! Tudo ficaria bem de novo! Aquela prova de amor acabaria com qualquer remorso!

Um dia então ele marcou. Naquela mesma praça que haviam se conhecido, num fim de tarde, a sombra da majestosa palmeira imperial! Tudo estava perfeito, e ele tomou coragem para anunciar sua decisão (Os homens que já fizeram isso ou pensaram em fazer sabem perfeitamente o que significa tal momento)! Quando abriu a boca pra começar o discurso que havia preparado e ensaiado, ela o interrompeu com a justificativa de que tinha algo importante a dizer.

Ele estremeceu!

"Conheci outra pessoa, estou amando. Acho que não dá mais pra nós... Me desculpe..."

Dito isso, ela lhe deu um beijo no rosto, levantou-se, e o deixou atônito no banco da praça, com as alinças no bolso e o coração sabe-se lá onde...

Ele estava em choque. Não soube o que dizer. Não sabia como agir. Tudo havia acabado em frações de segundo.

O movimento na praça foi caindo, a noite foi chegando. Escura, fria e sombria. Sentimentos de outrora foram tomando conta do nosso herói. Era como se tivesse voltado ao passado. Era como se nada nunca tivesse acontecido.

O dia era igual, o lugar era o mesmo, os sentimentos eram tão ou mais pesados que os de antes, as opções não haviam mudado: morrer ou jogar tudo pro ar.

Ele, definitivamente, não queria cometer o mesmo erro de outros carnavais...


quarta-feira, 9 de março de 2011

Detalhe



E de repente fez-se o NADA.

Fez-se tão rapidamente que não gastou-se sete dias e sete noites, bastou uma noite para que o mundo se dissolvesse na mais pura essência do Nada.

Tudo estava ali, mas nehuma das coisas, seja viva ou morta, conseguia tocar na alma daquele ser desesperado cujos sentimentos haviam sido desprezados momentos antes.

A vida o havia deixado, escorrido por todos orifícios, mas esquecera de desligar o corpo que teimava em continuar funcionado, seja com batimentos cardíacos ritmicos ou com pensamentos que vez ou outra rondavam aquela cabeça.

Mas ele não estava ali. Talvez estivesse no passado, onde havia sabor em estar vivo ou talvez estivesse além. Além de onde possamos imaginar, num Universo que não pertencia a mais ninguém. Porque aqui, tudo pra ele era Nada!

Alguns diziam que ele havia se torndo um zumbi, mas zumbis só vivem pra se alimentar, e ele não comia há uma semana.

Alguns diziam que ele estava depressivo, mas depressivos choram, e ele não havia derramado ainda uma lágrima sequer.

Alguns diziam que ele estava morto, e desse argumento só a fisiologia duvidava, mas o tempo tratava de convencê-la que aquilo estava certo...

Quando a morte do corpo parecia certa, todos se surpreenderam. De repente, do Nada, veio uma ideia fixa àquele ser: escalar uma montanha!

Ele se levantou, resgatou suas economias, voltou a se alimentar, pesquisou e decidiu seu destino. Um dia, com um largo sorriso no rosto, saiu para sua escalada.

Todos ficaram contentes, acreditando que ele havia melhorado. Poucos foram os sábios que deduziram que ele só estava procurando um caminho pra se encontrar de vez com o Nada...

A escalada não fora difícil. Ele estava com um pensamento fixo e todas suas forças voltaram-se para a realização desse objetivo.

Ao chegar ao topo, ele se sentou e fez um mergulho no passado. Dessa vez algumas lágrimas caíram. Ao lembrar dos pais, falecidos recentemente num acidente aéreo, ao lembrar da infância pura e sem preocupações e ao lembrar do amor de sua vida, que o havia deixado covardemente sob xingamentos.

O filme passou por completo. Era a história da vida no palco da morte. Era tudo que ele havia passado até chegar naquele momento de Nada. Eram os paradoxos que se faziam presente na vida daquele ser. Vida? Bem, talvez essa fosse mais um paradoxo.

Decidido, ele se levantou para cumprir o que acreditava ser sua última missão na Terra. Direcionou-se para beira do precipício, fechou os olhos, respirou fundo e, quando abriu os olhos pra saltar, um movimento à sua esquerda lhe chamou atenção.

Uma borboleta tentava sair do casulo, mas por algum motivo não conseguia. Dos confins de sua mente veio a velha máxima de Lavoisier: "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Aquela outrora lagarta estava se transformando em uma borboleta, mas precisava da energia vital que ainda pulsava nele pra se libertar. E com essa dedução e um sorriso no rosto ciente de que estava fazendo a coisa certa, ele pulou...

...

Ele pulou. Tinha certeza que havia pulado! Mas, estranhamente, ainda estava ali! Como era possível?

Olhou pro lado novamente e viu a borboleta, que, finalmente, conseguia se libertar. Como ela conseguira sem o seu sacrifício?

E no primeiro voo, a borboleta parece ter respondido aquelas perguntas. Foi um voo curto, em volta da cabeça do rapaz, com um suave pouso em seu ombro.

Até hoje não sei o que foi dito, mas, seja o que for, mudou a vida daquele garoto. Tudo parece ter ficado colorido novamente. Tudo parece ter voltado a ter sentido. Tudo parece ter ganhado novo fôlego.

A borboleta foi embora e o garoto voltou.

E do Nada fez-se o TUDO!

domingo, 6 de março de 2011

Pra que me conter?

Pra que me conter?
Pra engolir os espinhos de decepção e rasgar minha alma com lamentações e desespero?

Pra que me conter?
Pra manter as aparências enquanto me rói por dentro um ódio mortal?

Por que não dilacerar meus pulsos com uma lâmina de gilete se já dilaceraram meu coração com armas muito mais cruéis e dolorosas?

"Não, você tem que ser mais forte, não pode deixar que essas coisas te afetem!"

Como? Não posso deixar que minha dor transpareça? Tenho que parecer perfeito aos olhos da sociedade? Por quê? Me dê um único motivo!

Devo negar minha essência só porque ela aparenta ser ruim e me mostrar como um bonequinho perfeito? Mas ninguém é perfeito, por que eu devo querer que achem isso de mim?

Qual o problema de eu ter quebrado pratos e rasgado livros em um acesso de raiva? Deveria ir ao manicômio? Mas não seria o manicômio também o lugar de hipócritas que negam a si próprios só pra se adequar ao "certo" que lhes foi apresentado?

Me perguntaram o porque de tanta revolta. Será que não é claro? EU SIMPLESMENTE QUERO SER EU!

Por inteiro! Sem críticas, sem repreensões, sem poréns...

"Se contenha!" MAS POR QUE EU DEVO ME CONTER? Pra acumular raiva e sair matando dezenas de pessoas por aí num relapso impensado de justiça?

Se foi me dado o direito de vociferar, de sentir ímpetos de raiva, de me desesperar por uma perda, de chorar por uma decepção, por que devo abdicar disso tudo?

Não, não vou me conter! E também não queira que eu me contenha... Vou sentir tudo o que meu corpo permitir, vou aproveitar todas as sensações que a Vida tem a me oferecer, mesmo aquelas que lhes pareçam ruins, porque muito acima do seu julgamento ao meu respeito estou EU e, com certeza, não vou me abandonar por qualquer coisa...

Voejar


Vejo vales verdejantes
Ouço o assovio do vento
A Vida pulsa em cada instante
Um vulcão de lembranças e esquecimentos.

Viajo distraído na vastidão
Velozes vilões do pensamento
Vaza ternura e emoção
Cavo no vazio do momento.

Vou pra caverna invernal
Um cravo vela minh'alma
Cadáver que valsa lívido
No velho vagão das lágrimas.

Corpo vazio vaga voraz
No voo da ave vê esperança
Vítima cruel do seu vandalismo?
Ou vil refém de sua ignorância?

Movo em direção a um vilarejo
uma voz vocifera feroz
"Volte a viver dignamente
ou vá para o inferno atroz!"

Audaz e valente orador
Desafiando a visível covardia
Velejo feliz de volta
Revejo a velha alegria.

Vida passa veemente
Vendavais vem e vão
Sangue viaja nas veias
E desagua vibrátil no coração.

As vogais vazam pela mente
E avisam que é hora de partir
O poeta há agora de volver
Mas a Vida continua a florir!