sábado, 25 de novembro de 2017

Vendaval

Vento voraz que varre colinas
Vertendo dor em tranquilo vale.
Vós sois o mais cruel sopro
Usurpando a mais nobre das vidas


Que viestes veloz, é o seu direito!
Mas derrubastes a mim, que sou vil...
Cavastes agora profundas valas
Avariando incontáveis corações


Não vistes o mal que causastes?
Sabes como reverter tal covardia?
Me convenço que não mais me ouve...
Partistes deixando imenso vazio.


Ah, vento, por que tão vadio?
Uiva sobre meus prantos
E num deboche convida
O pesaroso crocitar dos corvos.


Pensas que vou sucumbir? Talvez...
As trevas de um anoitecer sinistro
Traçam planos maquiavélicos
Cavalgando rumo a uma caverna fria


Cantastes vitória, estimado vento!
Zombastes de nossos sentimentos
Cravando uma estaca crua e seca
No peito dos servos da amada rainha


Vosso estrago já estás feito
E se quiseres ir agora, vá!
Nem ao menos fostes convidado...
Mas se quiseres ficar, observe.


Veja que há um mar de lágrimas
Que vazam carreando amor e gratidão.
Veja que há aviltante desespero,
Mas nas veias o fluido vermelho carrega a semente!


Ah, vento, arrancastes a árvore mãe,
Mas teus frutos já floresceram!
Trouxestes o inverno rigoroso,
Mas com o tempo a Primavera virá!


E mesmo vós, hoje odiado,
Voltarás como brisa,
Trazendo memórias vívidas
A uma floresta verdejante!


Caro vento, assim termino minha carta a vós
A vós
Avós
Avó
Vó.