sexta-feira, 30 de julho de 2010

O recado

Começo a escrever. Algo precisa ser dito mas não sabe como. Apago. Recomeço. As palavras não parecem capazes de transmitir o recado. Será que devo ser direto? Não. Tarde demais para isso. Quando tive essa chance a coragem me abandonou. Será que o recado precisa mesmo ser escrito? Durante meses a fio pensei que estivesse transmitindo-o. Olhares, sorrisos, gestos... Até imaginei ter recebido algum tipo de resposta, mas as atitudes que se seguiram não foram condizentes com o teor da mensagem. Creio que tudo tenha esbarrado numa senhora chamada incompreensão. Deveria me desculpar, me justificar? Será que tenho alguma culpa? Algumas linhas já se foram e nada de recado. A propósito nem sei se há um. Talvez seja só mais um fruto da minha mente confusa... Parei! Sua feição invadiu meus pensamentos e me deixou sem ação. Qual seria sua reação quando soubesse? Será que entenderia? Muitas perguntas, poucas respostas, nenhum recado. Será que sou tão covarde a ponto de não conseguir nem ao menos escrevê-lo? Procuro uma lágrima, não a encontro. Minhas últimas experiências me tornaram mais frio. Queria ter alguém pra me aquecer. Queria me livrar dessa preocupação idiota que tem me subtraído noites de sono. Queria ter a indiferença que outrora acreditei possuir. Três desejos, nenhuma lâmpada mágica, nada de recado. Mais uma tentativa frustrada, porém, a última. Foi o máximo que consegui e não iria além por mais que me esforçasse. Espero que esse texto chegue nas suas mãos um dia e que você consiga captar algo nas entrelinhas. Enquanto isso vou revirando algumas caixas antigas a procura do erro cometido cujas consequências não param de me atormentar.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Carta ao amor

Belo Horizonte, 18 de outubro de 2009

2007, pra muitos só mais um ano que se foi, para mim, um ano que nunca passou. Foram apenas três meses que ficamos juntos, mas uma eternidade de emoções tomou conta do meu ser! Ainda me lembro do doce sabor de seus lábios, da pureza do seu olhar cor de mel, da delicadeza de suas frágeis mãos, e, mais do que tudo, do afeto depositado nas suas carícias... Queria tanto que você estivesse ao meu lado agora, deitada no meu colo, sob a sombra do ipê roxo, outrora florido, que você tanto admirava. Aqui passamos nossos melhores momentos. Aqui nos tornamos um só. Aqui voltamos a ser dois... Nenhuma briga, nenhuma desavança, somente um simples adeus sem mais explicações. A falta de reação do momento se transformou em um mar de sentimentos que só fazia aumentar com as lágrimas derramadas pela dor de sua perda. Você se manteve por perto, mas a curta distância combinada com frieza e indiferença só aumentou ainda mais meu silencioso sofrimento. Silencioso, fruto de um orgulho egoísta que me mantinha "forte" e distante, mas sofrimento, fruto de um sentimento que eu jamais sentira antes e creio que jamais sentirei novamente, um sentimento cujos românticos chamam de amor. Me calei e escondi minha dor, mas minhas forças se esgotaram e eu sucumbi! Só consigo pensar em você, sua presença se faz constante nos meus sonhos e até alucinações já me perseguem. Não sei se é coragem ou covardia, mas a única saída que vejo no momento é implorar por pelo menos mais um dia ao seu lado. É tudo que preciso para expulsar esse vazio que já me corrói por tanto tempo. Espero ansiosamente sua resposta. Se vier, serei eternamente grato, se não, serei para sempre um prisioneiro desse doloroso sentimento.




C. Dirgel

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Rachadura


Sim! Dentro desse peito bate um coração. TUM TÁ, TUM TÁ, TUM TÁ. Sempre assim, às vezes acelera-se, às vezes parece parar. Parar! Quantas vezes já não quis fazer isso... Mas enquanto não faço ele lá continua seu trabalho, um trabalho fisiologicamente fácil, mas emocionalmente complicado. Por anos desprotegido ele foi ferido, esmagado, dilacerado, apunhalado. Sentimentos que pareciam concreto para reorganizá-lo não passaram de veneno para debilitá-lo ainda mais. Já no estado agonizante, eis que surge a primeira ideia genial. Era perfeita, a solução de todos os problemas. Bastaria colocar uma proteção ao seu redor, um isolante total, que não permitisse que nada além de sangue entrasse e saísse. A vida foi um paraíso por um mês. Lá estava ele protegido, cicatrizando todas suas feridas e trabalhando com tranquilidade. Mas o tempo passou e o paraíso começou a ficar cinza. Sem sentimentos a vida se tornou uma sobrevida e a proteção se transformou num método de autotortura. Teimoso, resolvi deixar a pseudoproteção acreditando que era o melhor a se fazer, porém, a pressão interna causada pelos sentimentos que insistiam em sair do coração superou a resistência daquele material protetor e, seguindo um conceito básico da física, a proteção se rompeu e a situação voltou a ser a mesma. Quiçá pior! O sôfrego coração continuou servindo como um hotel pra emoções, mas o hotel já estava velho, caindo aos pedaços, e, por conta disso, só recebia os hóspedes mais chinfrins, daqueles arruaceiros, que descontentes com a péssima situação do estabelecimento procuram piorá-lo, seja jogando uma bola de papel higiênico molhado no teto ou roubando a toalha bordada que outrora servira aos nobres. Com uma administração desorientada, nada além de paliativos eram feitos. De que adianta retirar aquela bola de papel ou comprar uma nova toalha se os cupins continuam roendo as estruturas? Falido! Sim, falido! Assim estava aquele estabelecimento chamado coração. Mas então surge um novo administrador com pensamentos deveras positivos de recuperar o que parecia irrecuperável. A reforma começa. Muito lixo é encontrado e jogado fora, até aquela sujeirinha mais escondida. Muitas antiguidades são descobertas e colocadas no porão. Insetos e parasitas são devidamente eliminados. Paredes antigas são derrubadas e outras novas são construídas. A fachada também é reformada, e no fim temos um coração renovado, pronto pra reviver todo tipo de emoção. Mas será que devo deixar o coração desprotegido? Não estaria ele sujeito a todo tipo de estragos que sofrera no passado? Orgulhoso da reforma feita e temeroso que o patrimônio fosse depedrado novamente, decidi protegê-lo. Não com um isolante total sugerido pela física da última vez, mas sim com a membrana semipermeável tão utilizada na biologia. Ela decide o que entra e o que sai, e o excesso que insistir em sair mas não passar pela membrana será devidamente reciclado. Novamente vislumbrei o paraíso, e lá se vão algumas semanas, mas só escrevi isso tudo porque vi algo que me chamou atenção. Apesar de tudo estar na mais perfeita ordem, uma pequena RACHADURA se faz presente no cantinho esquerdo da membrana. Estaria a proteção fadada ao fracasso outra vez? Estaria o paraíso prestes a ser varrido por um dilúvio externo? Sinceramente não sei, só o tempo dirá. Enquanto isso vou curtindo o paraíso e ouvindo um som tranquilizador: TUM TÁ, TUM TÁ, TUM TÁ, TUM TÁ...

terça-feira, 20 de julho de 2010

A Busca


Frio, silêncio, escuridão
Tento sair um pouco
Alguma coisa me falta
Será que perdi lá fora?

Vejo pétalas voando
Um espetáculo da natureza
Algo me intriga
Teriam elas rumo?

Envolto na multidão
As vozes se misturam em uníssono]
Pessoas passam e não me veem]
Estariam elas cegas?

Encontro seu olhar caliente
Na cama o gozo me satisfaz
Deitado ao luar me pergunto
Por que prazeres passageiros?

Perguntas me invadem
Esbarram no vácuo
Se multiplicam
Me confundem
Me calam

Uma lágrima começa a nascer
Desce pelas marcas que o tempo deixou
Seria uma tentativa de fuga?
Talvez, mas não há esconderijo...

A lágrima se vai
E eu volto para a casa

O frio me paralisa
E por mais calientes que sejam os olhares
Eles não me aquecerão

O silêncio me cala
E por mais altas que sejam as vozes
Elas não falarão por mim

A escuridão me desorienta
E por mais que as pétalas tentem dar a direção
Elas não me iluminarão

Estaria a solução
Trancada no baú do porão?

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Só um blog!

Sempre me disseram que seria interessante criar um blog para publicar o que eu costumava escrever. Nunca senti essa necessidade, já que são escritos bastante pessoais, até alguém dizer: "Mas o que há de mal? É só um blog! E você escolhe o que entra ou não!". Achei um insulto, será que aquela pessoa não estava considerando a importância daqueles rascunhos para mim? Eles são meus e não vou dividir com ninguém, pensei! Outros pensamentos vieram depois desse e a conclusão, paradoxalmente, me fez criar esse blog! Qual a conclusão? Simples, esse egoísmo era fruto de um inexplicável medo de mostrar uma pequena parte de mim para o mundo! Um esconderijo que agora se faz desnecessário. Talvez o único erro daquela pessoa tenha sido dizer que isso "é só um blog", tenho a impressão que será muito mais que isso...

Aparências

Olhe
Se depare com a felicidade
Aprecie o encanto do sorriso
Dance ao som do sino da prosperidade

Espere
Observe mais um pouco
Se atente à mão inquieta
Veja a indecisão durante a pausa

Pare
Mergulhe mais profundamente
Entre pelo fugaz olhar distante
E descubra a dor daquela alma

Gestos e atitudes
Tudo em vão!
No âmago daquele ser
Não há aparência confortante

O belo é feio
A coragem é medrosa
O simples é complexo
E a verdade, uma porção de mentiras

Uma escolha
Duas vidas
A boa pertence aos outros
A ruim não divido com ninguém.


Cansei


Cansei de tanto procurar
Procurar por algo que cubra esse vazio
Vazio que me acompanha por tanto tempo
Tempo que insiste não passar

Cansei de tentar ser bom
Bom aos olhos dos outros
Outros que não me dão valor
Valor que insiste em se esconder

Cansei de simular felicidade
Felicidade que não passa de ilusão
Ilusão de que tudo são flores
Flores que insistem não chegar

Cansei de alimentar a vida
Vida que se esvai tão fácil
Fácil assim como vem a morte
Morte que insiste em esperar

Cansei de seguir as regras
Por isso agora as quebro
A arte é um espelho que reflete
O que o poeta tenta relatar

Vencido pelo cansaço?
Essa é a conclusão dos tolos
As engrenagens continuam girando
Rumo a uma história sem fim

Se a história não tem fim
O poema precisa de um
E fica no ar a pergunta
Que te convida a responder

De que valem as flores
Se com o tempo todas morrem?