segunda-feira, 14 de março de 2011

Como se fosse ontem


Era noite.

Uma noite fria, escura e vazia, onde nada parecia se mover. A sombra era a rainha daquele cenário, e o silêncio, o rei. Dominavam com maestria o reino das trevas.

Pode parecer muito clichê, leitor, dizer que nesse cenário havia alguém triste, solitário, achando que nada mais fazia sentido na vida. Também pode ser entediante ler sobre esse assunto mais uma vez, a ponto de você questionar a criatividade de quem vos fala. Porém, mesmo com tudo isso, tenho que assumir que sim, tinha alguém nessas condições nesse dia.

Não sei se é o dia, dito melancólico, que transforma as emoções dessas pessoas ou se são elas próprias que, uma vez se sentindo péssimas, veem o mundo com olhos depreciativos, mas o fato é que essa combinação é mais frequente do que se possa imaginar.

Independente de qualquer hipótese e alheio a todas elas, lá estava nosso personagem, que pediu pra não ser identificado por motivos pessoais, que também não vêm ao caso.

Estava deitado em sua fiel companheira, a cama, que já se encontrava, assim como a face do jovem, úmida com a quantidade de lágrimas derramadas. Ok, sei que não há originalidade nenhuma nessas duas últimas linhas escritas já que as últimas pesquisas mostraram que 452 pessoas ficam nesse estado lamurioso por noite e provavelmente, leitor, você já deve ter passado por isso uma vez na vida (ou mais). Sendo assim, você sabe que dois pensamentos são bem frequentes nessa ocasião. Um é a morte, o outro é a vontade de "jogar tudo pro ar".

Nosso pequeno herói considerou as duas possibilidades, mas optou pela segunda. Tomou uma espécie de banho, vestiu alguns trajes negros e decidiu sair de casa naquela noite. Sem rumo, sem objetivos e com um teor alcóolico considerável no sangue, justificado pela garrafa que carregava consigo.

Passou em frente a alguns lugares, se interessou pelas batidas fortes de uma casa de show, decidindo entrar. O álcool e a música pesada o fizeram descarregar parte daquela energia negativa, sob olhares no mínimo curiosos dos presentes. Aquilo era bom! Aquilo o fazia sentir melhor! Mas aquilo era passageiro...

No fim da noite ele saiu pior do que havia entrado. Andou um pouco, sentou num banco de praça e perdeu a noção do tempo...

Quando deu por si, já havia amanhecido e uma guria parecia chamá-lo insistentemente por algum tempo. Não era uma andarilha, não era uma vendedora, era só uma pessoa comum que se preocupou com seu estado deprimente.

Bem, leitor, vou te importunar mais uma vez interrompendo a história com um parêntese. Se você é um dos que já passou por situação similar, sabe que quando alguém demonstra se importar consigo você se sente, de algum forma, bem!

E nosso herói não foi exceção. Alguma coisa mexeu com seu estado de espírito, e ele viu uma luz naquela guria. Ficaram ali boas horas conversando. Até hoje ele não sabe precisar se foram quatro ou mais, mas só o fato da garota matar a aula de inglês pra ficar ali, fazendo companhia, já foi uma verdadeira pepita de ouro.

Ele ficaria ali boas horas, quando ela interrompeu dizendo que estava faminta. Só aí ele se tocou de quanto tempo não comia e de como estava precisando de uma bela refeição. Como gratidão, ele a convidou para um lanche, onde eles continuaram conversando por um bom tempo.

Quando eles se foram, não foram sozinhos. Um sentimento novo e bonito parecia estar nascendo no peito dos dois, e nosso herói apostou todas suas fichas nesse sentimento.

O tempo foi se passando e os dois foram se tornando cada vez mais próximos. Não consigo narrar metade dos sentimentos daquela garota quando, com um par de aliança de compromisso, ele a pediu em namoro. Uma cena linda! Uma felicidade compartilhada por duas pessoas que cada vez mais se tornavam uma.

Cartas, promessas, presentes, gestos, toques, beijos, amor! Amor! Era aquilo que sentiam um pelo outro. Era puro, era simples, era intenso, era mágico, era real! E real foi a sintonia dos dois na primeira noite. Era como se o paraíso tivesse descido à Terra! Seria tão bom se aquele momento fosse eterno...

Os meses se passavam e, cada vez mais, aquele sentimento ia tomando conta! Não conseguiam mais ficar longe um do outro por mais de dois dias. Quando não estavam frente a frente, o celular e o computador faziam a ponte necessária entre as duas almas! Era perfeito! Ou elhor, era quase perfeito...

Ela tinha um ciúme patológico, que o incomodava. Ele tinha uma carência enorme que ela, muitas vezes, não conseguia suprir. Por isso, algumas brigas e discussões vieram, como em qualquer relacionamento. Mas o amor era maior, e tudo aquilo era superado.

Com o tempo as discussões ficaram mais frequentes, o relacionamento foi ficando tenso e um tanto monótono... Ela parecia um pouco distante. Ele precisava fazer alguma coisa, e já tinha seu plano na manga.

Havia comprado as alianças de ouro e a pediria em noivado! Tudo ficaria bem de novo! Aquela prova de amor acabaria com qualquer remorso!

Um dia então ele marcou. Naquela mesma praça que haviam se conhecido, num fim de tarde, a sombra da majestosa palmeira imperial! Tudo estava perfeito, e ele tomou coragem para anunciar sua decisão (Os homens que já fizeram isso ou pensaram em fazer sabem perfeitamente o que significa tal momento)! Quando abriu a boca pra começar o discurso que havia preparado e ensaiado, ela o interrompeu com a justificativa de que tinha algo importante a dizer.

Ele estremeceu!

"Conheci outra pessoa, estou amando. Acho que não dá mais pra nós... Me desculpe..."

Dito isso, ela lhe deu um beijo no rosto, levantou-se, e o deixou atônito no banco da praça, com as alinças no bolso e o coração sabe-se lá onde...

Ele estava em choque. Não soube o que dizer. Não sabia como agir. Tudo havia acabado em frações de segundo.

O movimento na praça foi caindo, a noite foi chegando. Escura, fria e sombria. Sentimentos de outrora foram tomando conta do nosso herói. Era como se tivesse voltado ao passado. Era como se nada nunca tivesse acontecido.

O dia era igual, o lugar era o mesmo, os sentimentos eram tão ou mais pesados que os de antes, as opções não haviam mudado: morrer ou jogar tudo pro ar.

Ele, definitivamente, não queria cometer o mesmo erro de outros carnavais...


4 comentários:

  1. Adorei o texto. Você escreve muito bem! fiquei um tanto curiosa a seu respeito... Pensa em cursar letras ou algo semelhante ou já cursa?
    Abraços
    Thai

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  2. Olá Thai! Gosto muito de escrever, mas é só um hobby mesmo. Já faço um curso superior, mas nada que tenha relação com letras.

    Se quiser me procure no orkut (Carlos Dirgel) que a gente conversa mais!

    Abraços!

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  3. Realmente concordo com o comentário de cima. Vc escreve muito bem mesmo!
    Embora o texto seja triste gostei muito da história... Bem marcante! Bjs

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  4. gosto de texto onde o autor dialoga com leitor sinto que que dar muito mais vida e você se sente dentro da historia... escreve muito bem mesmo

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