domingo, 9 de setembro de 2012

Escrevendo

E cá estou eu andando em uma das locações mais movimentadas da cidade. Sei que ninguém escreve a respeito disso, e sei também que ninguém escreve nessas ocasiões, mas aqui estou eu, andando e escrevendo sem nenhum propósito aparente.

Talvez essa seja uma das minhas maiores esquisitices, uma vontade sobrepujante de escrever em lugares atípicos. É quase um vício, um impulso mais forte que qualquer iniciativa própria de controlar.

Foi assim quando pulei de paraquedas na juventude, quando esperava minha mulher no altar, quando fui trocar meu filho pela primeira vez e no meio de uma apresentação em um congresso internacional.

Não, não sou um escritor profissional, e nem sequer cheguei a publicar nenhum dos meus rabiscos, mesmo porque a maioria deles não tem nenhum sentido, a não ser para mim. Sou apenas um professor universitário de arqueologia perto da aposentadoria.

Os inúmeros psicólogos que já consultei deram diversas explicações para essa minha "compulsão": vazio interno, insegurança, ansiedade, fuga da realidade, entre tantos outros. Porém, nada que eles sugerissem diminuiu essa vontade extramundana de escrever, a que eu prefiro atribuir ao prazer!

De fato nunca tive vontade de entender as razões desse meu comportamento. Só procurei auxílio devido a insistência da minha mãe, minha mulher e meus amigos, que diriam que qualquer hora dessas eu poderia morrer atropelado num impulso descritivo (o que também não faz sentido, já que um dos meus instintos é olhar para os dois lados da rua antes de atravessar, mesmo quando a mesma é de mão única).

Acho que nunca descrevi as sensações que tenho com essa prática... Mas nesses momentos o coração bate mais forte, consigo sentir o sangue correr em várias partes do corpo, reacendo partes apagadas da mente, me transporto a vários mundos diferentes e consigo achar todo o discernimento que preciso para as horas difíceis. Quase um orgasmo intelectual!

Se isso não incomoda a mim, porque haveria de incomodar tantas pessoas? Não sei explicar, mas creio que são essas coisas complicadas de seres humanos não se adaptarem com coisas diferentes e incomuns...

Bem, mais uma vez matei minha sede literal, agora preciso me apressar para a próxima aula daqui a 10 minutos!


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