segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Nem tudo é igual



E o verão se aproxima! A estação em que a vida brota com a maior força está prestes a chegar! O verde se torna mais verde, os animais e os insetos se multiplicam, as pessoas ficam mais ativas, e há quem diga que fiquem até mais felizes! Mas antes que ele chegue com toda a pompa que lhe é de costume, a primavera proporciona aos melancólicos dias de imenso prazer.

Foi num dia atípico que descobri tal fato. Era um dia nublado, e uma brisa fria soprava na cidade de Belo Horizonte. No trabalho, as pessoas chegaram bastante mau humoradas por terem de levantar da cama com aquele friozinho típico e não poderem ver a luz do Sol. No horário do almoço, todos reclamavam veementemente da garoa fina que caía. Cansado daquela saraivada de reclamações, que já estavam começando a me irritar, decidi almoçar sozinho. Aproveitei para comer aquele hamburguer do McDonald's que sempre dá uma injeção de ânimo incrível. Devorei rapidamente meu lanche, e, como ainda tinha pelo menos uma hora de folga até o segundo turno de trabalho, resolvi dar uma passadinha no Parque Municipal pra respirar um ar mais puro (a inversão térmica típica desses dias era um prato cheio para minhas crises alérgicas).

O parque estava bem vazio, provavelmente por causa da garoa, e as poucas pessoas que lá se encontravam estavam só de passagem, e não exibiam feições das mais agradáveis. Procurei um lugar para me sentar e descansar um pouco, mas os bancos estavam todos molhados. Insistindo no meu desejo, comprei um jornal por 25 centavos e depois de uma rápida folheada usei-o como o forro de um banco para assentar-me. Confesso que aquele ar puro foi um alívio para meus pulmões! Não fosse aquela chuva insistente que incomodava a todos e aquele céu irritantemente nublado, poderia dizer que era um dia ideal! Continuei observando as pessoas, e parecia unânime o descontentamento com o clima daquela tarde de primavera.

Quando eu já estava quase chegando a conclusão que dias como esses não deveriam existir pois só serviam para deprimir o ânimo das pessoas, vi um jovem garoto sentado sob a copa de uma árvore frondosa com fones no ouvido que parecia extremamente contente. Surpreso com aquela cena, continuei observando-o discretamente para ter certeza se aquilo era felicidade ou só uma impressão minha. O garoto aparentava ter uns 18 anos e vestia uma blusa preta com uma caricatura de caveira, uma calça jeans preta bem justa e um cinto preto com adornos de metal. Além disso calçava um allstar xadrez de cano longo e usava um penteado bem moderno.

Indignado com toda aquela felicidade, fui obrigado a me aproximar do garoto e puxar conversa. Sentei-me ao seu lado na grama úmida, cumprimentei-o e perguntei seu nome. Bastante solicito, o garoto tirou um dos fones do ouvido e se mostrou extremamente disposto a uma conversa. Sem muitas delongas, perguntei o que havia acontecido pra que ele estivesse tão feliz num dia tão triste como aquele. Surpreendentemente, ele deu uma gargalhada bem espontânea e disse que nada tinha acontecido! A razão de todo o contentamento dele era justamente aquele dia nublado, frio e chuvoso. Ainda um pouco confuso com aquela resposta, perguntei o que ele achava dos dias ensolarados, que sempre elevavam o ânimo de todo mundo. Foi então que ele disse que não funcionava muito como a maioria das pessoas. Esses dias aparentemente alegres o deixava extremamente deprimido e triste. A luz, dita por muitos como responsável por alegrar as pessoas, não tinha o mesmo efeito com ele. Eram os dias escuros, parados, e com um ar de melancolia que mais alegravam sua alma. "Parece que a natureza decide me homenagear e exterioriza tudo o que sinto", disse ele. Ainda sem compreender a razão daquele comportamento, fiz a pergunta básica: 'Mas por quê? Por que toda essa felicidade num dia tão atípico?'. Com um sorriso sereno ele respondeu que o que dava toda a beleza para o mundo era sua grande diversidade. Cada ser vivo tinha suas preferências. Ele citou as plantas que só se adaptavam à lugares frios, os animais de vida estritamente noturna, as bactérias que não toleravam oxigênio e vários outros exemplos que fogem à regra geral. "Podemos ser minoria, mas ajudamos a embelezar o mundo da nossa maneira! Nada mais justo que uma recompensa, como um dia perfeito igual a esse, para sentirmos parte disso tudo!". Contente com a resposta e meio envergonhdo com o pré-julgamento que eu havia feito, concordei com ele, agradeci-o pela conversa e desejei-lhe uma ótima tarde.

No caminho de volta para o trabalho fiquei rememorando aquela conversa e caí na real de quantas vezes desconsideramos as diferenças do mundo por um simples egoísmo de nossa parte. Deixamos de ver o lado bom de várias ocasiões simplesmente por tapar os olhos ao que, a primeira vista, não nos interessa!

Como eu disse, aí vem o verão, a estação da alegria, praia, diversão e tudo mais... Mas a partir de hoje, nunca mais vou esquecer que toda regra tem sua exceção, e não fosse as exceções viveríamos num mundo extremamente monótono e sem graça!

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