quarta-feira, 9 de março de 2011

Detalhe



E de repente fez-se o NADA.

Fez-se tão rapidamente que não gastou-se sete dias e sete noites, bastou uma noite para que o mundo se dissolvesse na mais pura essência do Nada.

Tudo estava ali, mas nehuma das coisas, seja viva ou morta, conseguia tocar na alma daquele ser desesperado cujos sentimentos haviam sido desprezados momentos antes.

A vida o havia deixado, escorrido por todos orifícios, mas esquecera de desligar o corpo que teimava em continuar funcionado, seja com batimentos cardíacos ritmicos ou com pensamentos que vez ou outra rondavam aquela cabeça.

Mas ele não estava ali. Talvez estivesse no passado, onde havia sabor em estar vivo ou talvez estivesse além. Além de onde possamos imaginar, num Universo que não pertencia a mais ninguém. Porque aqui, tudo pra ele era Nada!

Alguns diziam que ele havia se torndo um zumbi, mas zumbis só vivem pra se alimentar, e ele não comia há uma semana.

Alguns diziam que ele estava depressivo, mas depressivos choram, e ele não havia derramado ainda uma lágrima sequer.

Alguns diziam que ele estava morto, e desse argumento só a fisiologia duvidava, mas o tempo tratava de convencê-la que aquilo estava certo...

Quando a morte do corpo parecia certa, todos se surpreenderam. De repente, do Nada, veio uma ideia fixa àquele ser: escalar uma montanha!

Ele se levantou, resgatou suas economias, voltou a se alimentar, pesquisou e decidiu seu destino. Um dia, com um largo sorriso no rosto, saiu para sua escalada.

Todos ficaram contentes, acreditando que ele havia melhorado. Poucos foram os sábios que deduziram que ele só estava procurando um caminho pra se encontrar de vez com o Nada...

A escalada não fora difícil. Ele estava com um pensamento fixo e todas suas forças voltaram-se para a realização desse objetivo.

Ao chegar ao topo, ele se sentou e fez um mergulho no passado. Dessa vez algumas lágrimas caíram. Ao lembrar dos pais, falecidos recentemente num acidente aéreo, ao lembrar da infância pura e sem preocupações e ao lembrar do amor de sua vida, que o havia deixado covardemente sob xingamentos.

O filme passou por completo. Era a história da vida no palco da morte. Era tudo que ele havia passado até chegar naquele momento de Nada. Eram os paradoxos que se faziam presente na vida daquele ser. Vida? Bem, talvez essa fosse mais um paradoxo.

Decidido, ele se levantou para cumprir o que acreditava ser sua última missão na Terra. Direcionou-se para beira do precipício, fechou os olhos, respirou fundo e, quando abriu os olhos pra saltar, um movimento à sua esquerda lhe chamou atenção.

Uma borboleta tentava sair do casulo, mas por algum motivo não conseguia. Dos confins de sua mente veio a velha máxima de Lavoisier: "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Aquela outrora lagarta estava se transformando em uma borboleta, mas precisava da energia vital que ainda pulsava nele pra se libertar. E com essa dedução e um sorriso no rosto ciente de que estava fazendo a coisa certa, ele pulou...

...

Ele pulou. Tinha certeza que havia pulado! Mas, estranhamente, ainda estava ali! Como era possível?

Olhou pro lado novamente e viu a borboleta, que, finalmente, conseguia se libertar. Como ela conseguira sem o seu sacrifício?

E no primeiro voo, a borboleta parece ter respondido aquelas perguntas. Foi um voo curto, em volta da cabeça do rapaz, com um suave pouso em seu ombro.

Até hoje não sei o que foi dito, mas, seja o que for, mudou a vida daquele garoto. Tudo parece ter ficado colorido novamente. Tudo parece ter voltado a ter sentido. Tudo parece ter ganhado novo fôlego.

A borboleta foi embora e o garoto voltou.

E do Nada fez-se o TUDO!

Um comentário:

  1. Simplesmente ADOREI!!!
    Nem tudo está perdido!Sempre há a esperança de um novo dia...
    Bjs

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