Era uma agradável manhã de sábado quando Enzo passeava com os pais na badalada rua 25 de março, coração de São Paulo. As compras de Natal já haviam se iniciado e Enzo, que completaria 12 anos semanas antes da esperada noite natalina, já sabia que seria agraciado com o videogame que cobiçara tanto e uma bicicleta nova para substituir a sua antiga e já surrada "companheira de viagens". Mas ele queria mais! A versão 3D de Detetive e um deck de cartas para incrementar seu magic. Era justamente por isso que ele resolvera acordar cedo naquele sábado e acompanhar os pais, ao invés de comparecer à sua sagrada escolinha de futebol.
Sua determinação era tanta que, em pouco tempo, ele avistou uma loja perto da esquina com a Senador Queirós e convenceu os pais a entrar sob a justificativa de comprar o presente de sua prima Júlia. Em menos de dois instantes, ele já carregara um carrinho com seus brinquedos pretendidos e uma boneca miniatura para sua prima. Porém, os pais logo perceberam o golpe que estavam prestes a serem vítimas e ordenaram que Enzo devolvesse os demais presentes, escolhendo apenas uma boneca decente para Júlia.
Como última estratégia, Enzo começou a chorar. Aquele choro pirracento e irritante que toda criança sabe fazer com perfeição! Entretanto, seus pais estavam determinados e não cederam à chantagem emocional. E então Enzo, derrotado, teve como única opção devolver os brinquedos em suas respectivas prateleiras e rumar, cabisbaixo, em direção à fila para que seus pais pagassem os enfeites de Natal e a boneca de sua prima. Surpresa dos três quando um senhor que acompanhou todo o "show" de Enzo cutucou a família e pediu permissão para presentear o garoto. Os pais de imediato negaram, então o senhor apenas tirou calmamente uma foto antiga de sua carteira e entregou aos pais de Enzo contando a seguinte estória:
"Esse é meu filho. Na foto ele já está carequinha. Era a Leucemia! Um ano antes, ele me pedira um carrinho de controle remoto no Natal e eu neguei, pois queria juntar dinheiro para pagar sua Universidade. Em menos de um ano, descobrimos que ele tinha a doença, que evoluiu muito rapidamente. Ele se foi antes do Natal seguinte, e eu não tive a oportunidade de entregá-lo o carrinho que ele tanto desejara. Desde então, tenho salvo meus Natais presenteando crianças como seu filho. Ficaria muito feliz se me proporcionassem essa alegria, fazendo o que eu deveria ter feito há tantos anos atrás."
Os pais, bastante comovidos, acenaram positivamente para o senhor enquanto devolviam a foto. Ele, então, guardou a foto, pegou a caixa no chão e entregou para Enzo, dando-lhe um abraço repleto de carinho e desejando-lhe uma vida longa e repleta de felicidades! Enzo agradeceu, e completou dizendo que deveriam existir mais pessoas boas como ele no mundo.
O velho se despediu, deu as costas e seguiu seu caminho. Enzo o acompanhava com o olhar e sentia que algumas lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ele sabia que aquelas lágimas não eram apenas simples lágrimas de criança, e que muitas delas ainda viriam. Um sorriso tímido se desenhou em seu rosto.
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