sábado, 7 de agosto de 2010

Na praça

Depois de mais uma semana de compromissos, decidi tirar o fim da tarde para desanuviar, como já diziam "Os Mutantes" em uma música antiga. Caminhei até uma praça tranquila que há muito não visitava, acomodei-me num cantinho do coreto, cruzei as pernas na posição infante de "pezinho de índio" e comecei a meditar. Assim fiquei por cerca de uma hora e, ao voltar à realidade, já me sentia mais leve, tranquilo e feliz. Para completar o processo, sentei-me em um banco da praça, comecei a observar as pessoas e a natureza e coloquei meus fones para apreciar minha playlist. Nesse transe de alegria avistei uma típica hippie me observando e caminhando em minha direção. Logo pensei que ela iria me oferecer algum tipo de artesanato, e confesso que até compraria movido pelo meu ótimo estado de espírito, mas suas mãos estavam vazias... Continuei fitando-a e tive certeza que ela vinha ao meu encontro quando ela, delicadamente, pediu licença para sentar-se ao meu lado. Previndo que estava por vir uma conversa agradável, tirei o fone de um dos ouvidos e voltei meu olhar em sua direção. Ela sorriu, e logo falou que já vinha me observando há algum tempo, desde quando eu estava no coreto e que sentiu uma vontade imensa de ter um dedo de prosa comigo. Surpreso com aquela decalaração perguntei o porquê dessa vontade, e mais supreso ainda fiquei quando ela disse que eu era a pessoa mais feliz que ela já vira desde muito tempo! Ora, como assim? Logo eu que sou "carinhosamente" chamado de depressivo e emo pelos meus amigos por ser mestre em curtir uma melancolia? Como aquela singela moça poderia enxergar isso em mim? Seria efeito de alucinógenos? Antes de me perder em meus pensamentos e deduções resolvi perguntá-la por que ela teve essa impressão. Foi nesse momento que ela tirou de seu bolso um pequeno espelho redondo e pediu para que eu olhasse. Achei engraçado, mas segui seu conselho. Enquanto eu olhava ela começou a falar: Veja, você sorri com os olhos! Quase ninguém sorri com os olhos ultimamente porque eles são o reflexo da alma e, apesar de muitas pessoas parecerem ser um antro de felicidade, é tudo fruto de falsidade. Os olhos são o melhor reflexo da alma, e se seus olhos estão sorrindo, tenha certeza que sua alma também está sorrindo. Sua alma está feliz e você está exalando felicidade! Fiquei atônito com aquelas palavras. Era exatamente aquilo que estava sentindo assim que sentei naquele banco. Uma sensação de felicidade profunda, algo que parecia ser pleno! E naquele momento de pequena confusão um gato amarelo veio roçar em minha perna. A hippie abriu um sorriso fraternal, pegou o gato em seu colo e disse que o Grilinho (esse devia ser o nome do gato) nunca chegava perto de ninguém a não ser ela, e que isso era a prova de que eu estava em sintonia perfeita comigo mesmo e com o mundo, e que estava atraindo boas coisas. Tentei justificar o fato dizendo que sempre tive gatos e que já sou quase um veterinário, por isso essa boa relação com animais, mas ela, com uma doçura incrível me aconselhou a não negar esse momento espetacular pelo qual estava passando, somente aceitá-lo e colher os frutos que ele iria me dar! Logo depois ela se levantou ainda com o gato na mão dizendo que ele precisava comer e começou a distanciar-se. Sem saber o que fazer eu a chamei e só consegui falar "Obrigado!". Mais uma vez ela me impressionou dizendo que era ela que deveria agradecer por ter tomado um pouquinho dessa minha alegria de viver. Ainda fiquei alguns instantes paralisado no banco. Só depois de alguns minutos que a hippie havia deixado meu campo de vista que consegui me movimentar, colocando novamente o fone em meu ouvido. Certo de que meu desanuvio já estava completo comecei a rumar em direção a minha casa, e ao chegar deitei-me em minha cama e fiquei repetindo em mente nossa breve conversa. Não sei seu nome, não sei de onde ela veio, não sei e talvez nunca saberei o porquê dela ter se aproximado de mim, mas sei que ela me deu a peça que estava faltando para o quebra cabeça se completar. Um anjo da guarda, uma miragem, uma pessoa que consegue valorizar a simplicidade da vida? Não sei. Só sei que desde então aquelas palavras vem se repetindo em minha mente e uma infinidade de boas coisas tem acontecido. Não vou tentar entender nada, não vou questionar nada, muito menos negar esse bom momento! Vou aproveitá-lo, afinal não é sempre que nos encontramos nessa prazerosa sintonia!
P.S.: Hoje, mirando-me naquele pequeno espelho que ela deixou comigo (na atonicidade do momento nem lembrei de devolvê-lo) consegui ver o sorriso dos meus olhos!

5 comentários:

  1. q lindo!!! O sorriso dos seus olhos...

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  2. O que vc escreveu nesse texto é a mais pura verdade. Muitas pessoas fingem felicidade. E realmente a verdade está nos olhos. srsrsrs

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  3. Engraçado esse texto...
    Essa semana aconteceu um fato super chato comigo e apesar da tristeza aparente, meus olhos também deviam estar sorrindo, porque eu tenho andando com essa certeza interior de que tudo está sempre certo.

    A gente nunca sabe com o que a nossa alma de felicita.

    Ótimo texto!

    Grandes beijos,

    Gisele.

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  4. O nome do seu blog devia mudar de "rascunhos esquecidos" para "rascunhos lembrados"!

    rsrs

    bjuu

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  5. É pura verdade que os olhos transmitem o estado da alma. Os olhos sorriem ou os olhos choram mesmo sem ter lágrimas...
    Adorei o texto!
    Bjs

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