sábado, 4 de setembro de 2010

O reino das cartas




Há muito tempo, em um lugar longínquo, uma vasta extensão de terra era dominada por quatro grandes reinos. O primeiro deles era o reino de Espadas, conhecido pelo seu forte domínio nas artes de luta e guerra. O segundo era o reino de Ouros, o mais rico dos quatro, uma vez que prezava pelo ganho e acúmulo de dinheiro. O terceiro era o reino de Paus, que se destacava pela suas majestosas construções e técnicas avançadas de engenharia. Por último, mas não menos importante, havia o reino de Copas que se dizia especialista nos assuntos do coração. A organização dos 4 reinos era bem similar. Havia um Rei que governava o reino, ditando as leis e regras que deviam ser seguidas e a Rainha, que, além de desposar o rei, dava o exemplo de comportamento feminino ideal. Além dessas duas personagens importantes havia o Valete, a figura mais importante do reino segundo os sábios ases, uma vez que era o braço direito do Rei, colocando todas suas medidas em prática e sendo responsável pela segurança do reino, diplomacia e cobrança de impostos. O Rei era uma figura respeitada e adorada pelos seus súditos e, ao lado de sua Rainha, sempre carismática e atenciosa, governava com tranquilidade, apoiado no indispensável Valete, que apesar de responder pela maior parte da administração e manutenção dos reinos, era extremamente odiado por todos. Por suas inúmeras competências, o Valete era um homem inteligente e perspicaz, que não se deixava enganar. Um jogador de primeira, estrategista ímpar, que conseguia ganhar dinheiro de qualquer apostador por maior que fosse sua fama. A única área que o Valete não poderia se gabar de forma alguma era a amorosa. Ele não tinha muito tato com as mulheres, e nunca conseguia emplacar um relacionamento, nem mesmo o Valete de Copas, que por conta disso vivia em um eterno dilema. Todos os dias ele ficava horas em seus aposentos entristecido, por não conseguir amar nenhuma donzela, por mais bela e educada que ela fosse. Logo ele, o Valete de Copas? Ele tinha que conseguir! Mas nada dava certo. Com o tempo, a tristeza do Valete de Copas começou a atrapalhá-lo em suas funções primordiais, e seu reino começou a entrar em decadência. Furioso, o Rei logo cobrou resultados de seu súdito de confiança que foi obrigado a refazer seu juramento de fidelidade e compromisso para com o reino. Bem que o Valete de Copas tentou voltar a atividade, mas o vazio que tomava conta de si era mais forte que qualquer outra coisa. Preocupada com a situação do reino, a Rainha de Copas decidiu agir. Utilizando-se de sua intuição feminina, ela teve uma conversa franca com o Valete para descobrir o que o atrapalhava. Em prantos o Valete expôs sua ferida e comoveu aquela Rainha que logo se dispôs a ajudá-lo a encontar seu verdadeiro amor. Durante vários meses a Rainha encontrou-se em segredo com o Valete de Copas para aconselhá-lo, dizer coisas que as mulheres gostavam, deixá-lo por dentro dos assuntos que elas se interessavam, como ele deveria falar, tocar... Logo o Valete voltou a ser como antes, e o reino dava visíveis sinais de prosperidade. Mas com o passar do tempo, aqueles encontros com a Rainha ficaram cada vez mais frequentes e demorados, e parecia estar surgindo alguma coisa nova entre os dois. Então, num belo fim de tarde do outono, os dois observavam o campo coberto de folhas quando as duas mãos se encontraram. Eles trocaram olhares, aproximaram o rosto e selaram aquele momento com um beijo apaixonado. Não havia mais volta, o amor havia nascido. Era um amor proibido. Ela jurara fidelidade ao marido e ao reino. Ele também tinha um compromisso com seu Rei. Mas o sentimento era tão avassalador que os encontros furtivos continuaram mesmo sob o risco de alguém descobrir o romance secreto. E eis que um dia acontece e é logo o rei quem os flagra na cama em pleno ato de traição. Possesso de raiva o Rei desbainha sua espada e acerta sua esposa com um golpe fatal. Ele tenta assassinar também seu súdito infiel, mas o Valete consegue deflagrar um golpe contra o Rei, que cai desfalecido. Desesperado, o Valete corre pelo castelo com o corpo de sua amada em mãos e foge do reino. Após esse fato, o Reino de Copas entrou em total decadência. A paz entre os reinos foi quebrada e diversas guerras auxiliaram na destruição do reino de Copas e posteriormente dos 3 outros. Há quem diga que o próprio Valete de Copas, infiltrado em outros reinos, foi o responsável pela destruição daquela civilização, movido por um sentimento misto de ódio, vingança e culpa. Fato é que hoje pouco se sabe sobre aquela época, já que a maioria dos arquivos foram perdidos, só a fama de traiçoeiro do Valete prevaleceu. Alguns acreditam que uma pequena cabana com um túmulo ao lado onde foram encontrados várias cartas apaixonadas teria servido de esconderijo do Valete e local de repouso eterno para a Rainha de Copas. Mas o que ninguém sabe é que ali nasceu o verdadeiro amor, um amor puro e inocente que ainda paira nos dias de hoje procurando uma terra fértil para se deselvover e gerar belos frutos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário