sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Bom Velhinho

É Natal!

A família está toda reunida. Fogos estão a explodir nos céus e a bela mesa de Natal que ficara intacta até o momento começa a ser atacada por devoradores ferozes. Aquela famosa tia chata grita estridentemente que está na hora do amigo oculto, e nessa algazarra familiar eu vou discretamente para sala, perto da árvore, fazer o que eu faço todas as noites de Natal: esperar Papai Noel!

A primeira vez foi aos os 5 anos. Minha avó me contou a fábula pouco antes de me colocar pra dormir na noite do dia 24 de dezembro. Encantado com a magia, não consegui dormir, e quando ouvi o sino da Igreja badalar a meia noite, fui de mansinho para junto da árvore esperar o bom velhinho. Nessa noite eu não o vi. Pensei ter chegado atrasado, pois os presentes já estavam sob a árvore. Fiquei triste, mas esperei meio impaciente o outro Natal pra poder ver o Papai Noel. Dessa vez me escondi atrás do sofá, e fui antes da meia noite, mas novamente ele foi mais rápido que eu.

Ano após ano a história se repetia, e eu bolava meu plano mirabolante para ver Papai Noel. Aos nove anos cheguei a arrumar comida para as renas com o intuito de atrasar a sua partida, mas não obtive sucesso. Acho que o dia que mais chorei foi aos 11 anos quando, as vésperas do Natal, um amiguinho me disse que Papai Noel não existia, que era coisa de criança e que só idiotas acreditavam nisso. Queria provar que ele estava errado, então, nesse ano, fiquei sentado no sofá, em frente da árvore de natal durante todo o tempo, desde as 20 horas, e, novamente, ele não apareceu. E eu chorei. Chorava como um bebê faminto, minha mãe fazia de tudo para me acalmar, mas nada era suficiente e, engasgando no choro, acabei pegando no sono.

A tristeza me acompanhou nos dias que procederam o Natal. Era como se uma estaca tivesse me perfurado e permanecesse ali. Queria chorar, mas segurava em soluços para não ser alvo de gozações. Como assim ele não existia?

Foi um golpe duro, mas continuei com a esperança. Ano após ano, a meia noite, lá estava eu perto da árvore esperando a visita inesperada. Nem os calores da adolescência me tiravam do "posto sagrado". Aos 15 anos, quando estava prestes a beijar a menina que paquerei o ano inteiro, as badaladas começaram a tocar, e eu corri desesperadamente para não perder aquele momento que para mim era tão especial!

Ao passar do tempo a espera foi se tornando apenas tradição. Ao soar dos sinos eu melancolicamente me aproximava da árvore e chorava a tristeza de infância. Por incrível que pareça, aquilo ainda doía... Como assim Papai Noel era só uma invenção?

E foi com esse mesmo lamento que me aproximei da majestosa árvore esse ano. Como tinha ficado bonita! O curso de design da minha irmã já estava surtindo efeito. Fiquei 5 minutos observando a árvore e com aquela esperança infantil já agonizante, mas não ainda morta. Desiludido, abaixei, peguei o presente com meu nome (minha mãe ainda mantinha esse costume) e fui tomar um ar lá fora, já que a algazarra familiar não estava muito compatível com meu momento introspectivo.

Sentei na calçada com o presente ainda fechado e comecei a observar as belas decorações. O espírito natalino ainda persistia, mas e o Papai Noel? No meio dessa revolta, vejo um menininho saindo correndo de uma casa e sentando numa escada do outro lado da rua. Preocupado com a cena, me aproximei e perguntei o que havia acontecido. Choroso, o menino me contou que haviam acabado de revelar a ele que Papai Noel não existia e quem dava os presentes eram os parentes. Instantaneamente voltei a minha infância, e senti aquela fincada no peito. Mais uma criança se desiludia... No momento fiquei sem ação. Pensei em contar a minha história, mas os prantos do menino não deixariam. Foi quando, num impulso de fantasia, pedi pra que ele ficasse calmo e falei que tudo o que tinham dito era mentira. Falei que Papai Noel existia sim, mas ele tinha tido um probleminha esse ano e não conseguiu chegar a tempo me dando a missão de entregar o presente para o garoto. Peguei meu presente e entreguei pro agora desconfiado garoto. Eu estava tenso, pois imaginei que minha mãe tivesse comprado um perfume e isso não é presente de criança, mas quando ele abriu pra sua (e minha) surpresa, era uma miniatura alemã de uma Ferrari que eu estava namorando a muito tempo. O menino pulou de felicidade, e eu me senti meio culpado de prolongar a fantasia dele. Foi nesse momento que ele me deu um forte abraço e disse: Obrigado, eu sabia que Papai Noel existia, fala pra ele que não importa o que me disserem, eu vou sempre acreditar!

O menino saiu correndo de volta para a casa contar as boas novas e eu, ainda atordoado e lamentando a perda da Ferrari, voltei pra casa e encarei novamente a árvore. De repente uma alegria repentina tomou conta de mim: PAPAI NOEL ESTAVA LÁ! Não, não era um velhinho gordo, vestido de vermelho e com um saco de presentes nas costas, naquele momento era eu! Papai Noel existia, e ele se manisfestava nos mais simples atos! Estava dentro da gente todo o tempo, mas muitas vezes, por egoísmo ou falta de tempo não o deixávamos aparecer. Levar felicidade ao próximo e ver nascer um sorriso no rosto choroso e alegria num coração partido me fez ver o Papai Noel que havia dentro de mim, e nessa explosão de felicidade corri até a cozinha e gritei como se estivesse comemorando um título:

PAPAI NOEL EXISTEEEE!!!



Nesse Natal, deixem que o Papai Noel que há dentro de vocês leve alegria a todos que amam! Eu garanto que felicidade que sentirão será imensa!

FELIZ NATAL!


C. Dirgel

3 comentários:

  1. Nossa Carlos!!!

    Achei o texto lindo!!!!

    Um dos mais lindos sobre o natal que já li!!!

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  2. Carlos, maravilhoso texto me fez relembrar com ternura a menina que eu fui e que em noites de natal esperei acordada,ao lado de uma planta enfeitada com lacinhos de papel de balas coloridas.Ouvia a rádio nacional, até meia noite. Sempre esperei um milagre.Papai noel na minha mente existia sim.

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